Do antigo, postado em 30 de maio de 2007.

Vestibular para Artes Cênicas? Nunca pensei em prestar… Mas, como a vida é cheia de surpresas, sejam elas boas ou ruins, aqui estou, concluindo minha graduação em Artes Cênicas – Licenciatura na Universidade Federal de Ouro Preto. Com as formações em Técnico em Construção Civil pelo Colégio Técnico Universitário (CTU) da Universidade Federal de Juiz de Fora e Instrumentadora Cirúrgica pela Impacto Escola de Saúde, achei que minha vida fosse caminhar para o lado da Engenharia Civil, Arquitetura, Enfermagem, ou até mesmo Medicina. Mas, para minha felicidade e descoberta profissional, o caminho a ser seguido foi aquele que nunca imaginei ou sonhei. Sempre fazendo teatro e envolvida com as artes de alguma forma, mesmo que inconsciente, em meados do segundo semestre de 2002 meus olhos avistaram um cartaz com os seguintes dizeres: “Vestibular UFOP 2003”. Dentre todos os cursos oferecidos pela UFOP estava o de Artes Cênicas. Tal curso me despertou curiosidade por ter a terceira fase no vestibular que é a fase de aptidão específica, onde os candidatos interpretam, improvisam, cantam se expressam corporal e intelectualmente, além de uma prova escrita com os conteúdos teatrais, análise de obras e de uma cena teatral assistida pelos candidatos no primeiro dia de prova. Tendo essas informações pensei: “Será que passaria na terceira fase por pertencer a um grupo de teatro há um bom tempo?”. Bom, essa resposta eu só teria se eu prestasse o vestibular. Foi onde fiz minha inscrição para o vestibular da UFOP.
Antes de chegar à terceira fase e encontrar a resposta para minha pergunta, eu precisava vencer a primeira e a segunda fase e para isso era necessário me dedicar, fazer tudo certinho. Li todos os livros de literatura indicados e passei incansáveis noites com meu amigo Daniel Justi estudando muito, principalmente história que é uma matéria que não me identifico e que constituía a minha segunda fase aberta. Chegou o dia da prova, e até um jogo de caneta e lapiseira que tenho guardado até hoje com o maior carinho eu ganhei com o intuito de me “dar sorte”. Feito a minha parte nas provas, era só esperar o resultado para a terceira fase. O dia do resultado chegou, lá estava meu nome, Pamella Schefer Corrêa aprovada para a terceira fase e uma correria começou a tomar conta do meu cotidiano. Lembro que o tempo de espaço entre a divulgação do resultado para a terceira fase e a data desta era muito curto, e como não tinha condições de adquirir os livros indicados para a terceira fase sem antes ter a certeza de que a realizaria tive que conseguir todos e lê-los em praticamente uma semana. Houve uma mobilização de todos os meus amigos. Durante a minha jornada de trabalho na companhia de água e esgoto de Juiz de fora – CESAMA, os funcionários que trabalhavam comigo realizaram e dividiram naquela semana corrida a minha função, enquanto eu próximo a buracos com redes de água e esgoto expostas lia e relia os livros. Minha mãe chegou até a conseguir o vídeo dos espetáculos referentes às duas peças que tive que ler (Pérola – Mauro Rasi; Édipo Rei – Sófocles), só não me pergunte como ela conseguiu isso. Os meus amigos, coitados, não agüentavam mais me ouvir ensaiando e cantando a música Sina do Djavan que apresentaria na prova, sem contar as escalas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, e os lá lá lá lá lá. Na época achava toda essa correria e repetições estressante e tensa, já hoje, tais lembranças trazem consigo inúmeros risos. A terceira fase era em Ouro Preto, ou seja, tive que me deslocar até lá, que hoje é aqui. Cheguei a Ouro Preto e fiquei encantada com a arquitetura, becos, ruelas e cansada com tantas ladeiras. Fui ao Museu da Inconfidência e procurei andar bastante nas horas vagas, pois meu retorno a essa cidade nos próximos meses era incerto. Fiz as provas, cantei, interpretei, improvisei e retornei para Juiz de Fora com a ansiedade da espera de um resultado positivo desejado e muita história para contar. O resultado saiu antes da data indicada pela UFOP, fato que não esperava. Era para o resultado ter saído numa segunda-feira e acabou saindo na sexta. Não esperava nunca ter o resultado antes de segunda, mas o Flaviano Souza e Silva aluno de Direção Teatral que encenou o monólogo “O Cabra”, que analisei na terceira fase e que tornou um colega nos três dias de prova me ligou e deu a notícia. Não entendi nada, na madrugada de sexta para sábado, por volta das três horas o meu celular tocou, olhei e era o Flaviano. Pensei: “O que esse cara de Ouro Preto quer comigo há essa hora?”. Atendi um pouco receosa e ao dizer alô ouvi a seguinte e inesquecível frase: “Parabéns a mais nova ouro-pretana”. Meu mundo parou, como assim? O resultado era na segunda. Conversamos, ele me explicou que havia sido antecipado, mas mesmo assim não acreditei. E não conseguiria dormir com aquela dúvida me incomodando. Com o modem do meu computador queimado, tive que arrumar outro jeito de ter certeza de que tal notícia não era um trote de um veterano a procura de uma caloura para sacanear. Sem pensar, peguei o telefone e liguei para minha melhor amiga, Delaine Nunes da Silva, que confirmou a notícia. Fiquei muito feliz, mas não consegui ignorar a seriedade disso. Passar no vestibular da UFOP significava fazer um curso que nunca pensei, era abrir mão das minhas formações técnicas que tanto gosto e ir para longe da família, dos amigos e em especial da minha amada mãe Sandra. Todos me incentivaram, e muitos achavam o curso a minha cara, mas também cheguei a ouvir coisas do tipo: “Você passou no vestibular? Pra Artes Cênicas? Grande bosta”, “Instrumentadora Cirúrgica, Técnica em Construção Civil, você tem que decidir o que você quer. Vai ficar cada hora fazendo uma coisa?”. Chegava a brincar que com as minhas formações eu poderia ajudar a construir o hospital, trabalhar no centro cirúrgico e nas horas vagas colorir a vida dos pacientes através da arte, sendo assim, diferentes funções em um mesmo espaço. Como acredito que nada nessa vida é por acaso, tudo tem um fundamento, uma lição, uma descoberta e aprendizado me disponibilizei a trilhar esse novo caminho e a preencher a vaga conquistada. O próximo passo então era fazer a matrícula e procurar algum lugar para morar, sendo assim, em pouco tempo retornei a Ouro Preto onde estou até hoje, há quatro anos. A universidade e a vida acadêmica era um novo mundo a ser descoberto e desvendado. Estar na UFOP e principalmente no curso de Artes Cênicas foi deparar com a realidade da educação e das condições das instituições públicas no Brasil. A grade curricular do curso com disciplinas e conteúdos interessantes entrava em choque com as condições físicas do prédio onde as aulas eram realizadas. As aulas do curso de Artes Cênicas e Música eram realizadas na Escola de Minas, antigo Palácio dos Governantes, localizada na Praça Tiradentes. Ter tido aula no antigo Palácio dos Governantes pode até ser motivo de orgulho, mas sob as condições oferecidas é motivo de vergonha. Achava que em uma universidade, todos os cursos tinham salas de aula que atendessem suas necessidades curriculares, além de no mínimo, uma sala com cadeiras e carteiras, coisas com as quais não me deparei na minha graduação. Porém, em compensação, grande parte do corpo docente era de grande experiência e ricos conteúdos a serem passados e os alunos concretizadores de trabalhos fantásticos com tão pouca condição oferecida.
Antes de chegar à terceira fase e encontrar a resposta para minha pergunta, eu precisava vencer a primeira e a segunda fase e para isso era necessário me dedicar, fazer tudo certinho. Li todos os livros de literatura indicados e passei incansáveis noites com meu amigo Daniel Justi estudando muito, principalmente história que é uma matéria que não me identifico e que constituía a minha segunda fase aberta. Chegou o dia da prova, e até um jogo de caneta e lapiseira que tenho guardado até hoje com o maior carinho eu ganhei com o intuito de me “dar sorte”. Feito a minha parte nas provas, era só esperar o resultado para a terceira fase. O dia do resultado chegou, lá estava meu nome, Pamella Schefer Corrêa aprovada para a terceira fase e uma correria começou a tomar conta do meu cotidiano. Lembro que o tempo de espaço entre a divulgação do resultado para a terceira fase e a data desta era muito curto, e como não tinha condições de adquirir os livros indicados para a terceira fase sem antes ter a certeza de que a realizaria tive que conseguir todos e lê-los em praticamente uma semana. Houve uma mobilização de todos os meus amigos. Durante a minha jornada de trabalho na companhia de água e esgoto de Juiz de fora – CESAMA, os funcionários que trabalhavam comigo realizaram e dividiram naquela semana corrida a minha função, enquanto eu próximo a buracos com redes de água e esgoto expostas lia e relia os livros. Minha mãe chegou até a conseguir o vídeo dos espetáculos referentes às duas peças que tive que ler (Pérola – Mauro Rasi; Édipo Rei – Sófocles), só não me pergunte como ela conseguiu isso. Os meus amigos, coitados, não agüentavam mais me ouvir ensaiando e cantando a música Sina do Djavan que apresentaria na prova, sem contar as escalas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, e os lá lá lá lá lá. Na época achava toda essa correria e repetições estressante e tensa, já hoje, tais lembranças trazem consigo inúmeros risos. A terceira fase era em Ouro Preto, ou seja, tive que me deslocar até lá, que hoje é aqui. Cheguei a Ouro Preto e fiquei encantada com a arquitetura, becos, ruelas e cansada com tantas ladeiras. Fui ao Museu da Inconfidência e procurei andar bastante nas horas vagas, pois meu retorno a essa cidade nos próximos meses era incerto. Fiz as provas, cantei, interpretei, improvisei e retornei para Juiz de Fora com a ansiedade da espera de um resultado positivo desejado e muita história para contar. O resultado saiu antes da data indicada pela UFOP, fato que não esperava. Era para o resultado ter saído numa segunda-feira e acabou saindo na sexta. Não esperava nunca ter o resultado antes de segunda, mas o Flaviano Souza e Silva aluno de Direção Teatral que encenou o monólogo “O Cabra”, que analisei na terceira fase e que tornou um colega nos três dias de prova me ligou e deu a notícia. Não entendi nada, na madrugada de sexta para sábado, por volta das três horas o meu celular tocou, olhei e era o Flaviano. Pensei: “O que esse cara de Ouro Preto quer comigo há essa hora?”. Atendi um pouco receosa e ao dizer alô ouvi a seguinte e inesquecível frase: “Parabéns a mais nova ouro-pretana”. Meu mundo parou, como assim? O resultado era na segunda. Conversamos, ele me explicou que havia sido antecipado, mas mesmo assim não acreditei. E não conseguiria dormir com aquela dúvida me incomodando. Com o modem do meu computador queimado, tive que arrumar outro jeito de ter certeza de que tal notícia não era um trote de um veterano a procura de uma caloura para sacanear. Sem pensar, peguei o telefone e liguei para minha melhor amiga, Delaine Nunes da Silva, que confirmou a notícia. Fiquei muito feliz, mas não consegui ignorar a seriedade disso. Passar no vestibular da UFOP significava fazer um curso que nunca pensei, era abrir mão das minhas formações técnicas que tanto gosto e ir para longe da família, dos amigos e em especial da minha amada mãe Sandra. Todos me incentivaram, e muitos achavam o curso a minha cara, mas também cheguei a ouvir coisas do tipo: “Você passou no vestibular? Pra Artes Cênicas? Grande bosta”, “Instrumentadora Cirúrgica, Técnica em Construção Civil, você tem que decidir o que você quer. Vai ficar cada hora fazendo uma coisa?”. Chegava a brincar que com as minhas formações eu poderia ajudar a construir o hospital, trabalhar no centro cirúrgico e nas horas vagas colorir a vida dos pacientes através da arte, sendo assim, diferentes funções em um mesmo espaço. Como acredito que nada nessa vida é por acaso, tudo tem um fundamento, uma lição, uma descoberta e aprendizado me disponibilizei a trilhar esse novo caminho e a preencher a vaga conquistada. O próximo passo então era fazer a matrícula e procurar algum lugar para morar, sendo assim, em pouco tempo retornei a Ouro Preto onde estou até hoje, há quatro anos. A universidade e a vida acadêmica era um novo mundo a ser descoberto e desvendado. Estar na UFOP e principalmente no curso de Artes Cênicas foi deparar com a realidade da educação e das condições das instituições públicas no Brasil. A grade curricular do curso com disciplinas e conteúdos interessantes entrava em choque com as condições físicas do prédio onde as aulas eram realizadas. As aulas do curso de Artes Cênicas e Música eram realizadas na Escola de Minas, antigo Palácio dos Governantes, localizada na Praça Tiradentes. Ter tido aula no antigo Palácio dos Governantes pode até ser motivo de orgulho, mas sob as condições oferecidas é motivo de vergonha. Achava que em uma universidade, todos os cursos tinham salas de aula que atendessem suas necessidades curriculares, além de no mínimo, uma sala com cadeiras e carteiras, coisas com as quais não me deparei na minha graduação. Porém, em compensação, grande parte do corpo docente era de grande experiência e ricos conteúdos a serem passados e os alunos concretizadores de trabalhos fantásticos com tão pouca condição oferecida.
Achava que a universidade iria me formar em alguma coisa, mas com o passar de cada período fui vendo que a universidade não forma, ela informa. Inúmeros caminhos são citados, indicados. Algumas coisas são explanadas, orientadas, mostradas, cabendo a você ir atrás da vertente que lhe agrada buscando mais informações e referências. E através das várias informações dadas e conteúdos aplicados fui descobrindo aos poucos o porquê da vida ter me trazido até Ouro Preto, ainda mais para fazer o curso de Artes Cênicas. O segredo de tudo estava simplesmente na palavra Licenciatura complementada pela frase “A vida em Ouro Preto”. Talvez tenha sido obrigada a realizar meu curso superior aqui, por ser só aqui o lugar aonde iria sozinha me deparar, ter que encarar e vencer coisas horríveis pelas quais jamais pensei em passar como aconteceram, e talvez também por não ser possível meus anjos se deslocarem até a mim, tendo eu que vir ao encontro deles. Foi aqui que me descobri como educadora, foi aqui que pessoalmente entrei em rios de sangue e de rosas para inconscientemente adquirir a maturidade necessária que influenciasse positivamente não só minha vida pessoal, mas principalmente minhas descobertas e construção profissional. Infelizmente, minha relação com os colegas de classe foi restritamente acadêmica, com exceção da Sara. Não sei se é proveniente da área e concorrência, mas não conseguia enxergar nas pessoas uma amizade conquistada que não tivessem em primeiro lugar interesses acadêmicos ou profissionais. No meio do curso sofri com o preconceito, fui exclusa e vista com maus olhos por ter tido uma opinião diferente em uma situação muito delicada. Onde fui contra a exclusão de uma docente que não estava agradando a maioria da turma com as suas metodologias em uma matéria que não era o foco de estudo dela, mas que por questões departamentais e falta de professores aptos lhe foi destinada. Fui contra ao movimento por me enxergar como uma futura educadora inexperiente, por saber da possibilidade da minha didática não corresponder às expectativas de determinada turma, por saber que o ser humano não é perfeito e que antes de partir para o radicalismo existem outras formas amenas, coerentes e suaves de se tentar solucionar as coisas. E por ter sido a única de opinião contrária tive que conviver com noventa por cento do curso me olhando de forma negativa e mal me cumprimentando, inclusive meus colegas de classe. Tal situação foi extremamente desagradável, mas em momento algum deixei de ser quem sou ou mudar minhas atitudes para com os colegas. Como o tempo não apaga as coisas, mas ameniza, traz significados, reflexões e respostas, passado alguns meses as coisas foram voltando ao normal e em momento algum me senti arrependida por ter sustentado até o fim minha opinião sendo a única aluna na sala de aula naquela disciplina, na qual fui surpreendida pela docente com a sua força de vontade, busca e transmissão dos conhecimentos aprendendo muito com tudo isso, tanto no âmbito acadêmico como pessoal. As verdadeiras amizades que aqui conquistei tirando com a república Pulgatório a Sara Pavan e o Berilo Luigi, foram com as pessoas nascidas e criadas aqui, com os verdadeiros ouro-pretanos. Fui adotada por várias mães, ganhei irmãos e irmãs e até um padrinho. Das mães uma não posso deixar de mencionar que é a minha mãe acadêmica, minha orientadora, professora (mestra) e acima de tudo amiga Neide das Graças de Souza Bortolini que teve grande contribuição para minhas paixões e descobertas profissionais. A Neide me ensinou a confiar no meu potencial, a descobrir o prazer de ser pesquisadora, foi o meu anjo, meu apoio acadêmico, conselheira profissional e pessoal. Devo a ela o que sou hoje enquanto educadora. Jamais irei me esquecer no dia que entrei na internet e vi meu nome no resultados dos projetos selecionados para a iniciação científica da UFOP. Sob orientação dela e um trabalho maravilhoso em conjunto desenvolvemos o projeto “O Corpo nas Artes Cênicas, na Educação Física e na Música: uma análise comparativa” pelo programa PIP (projeto de iniciação a pesquisa), durante um ano. Desde então, nunca parei e pretendo nunca parar de pesquisar. Ela plantou algumas sementes que geraram caule, folhas, frutos e flores que estarei sempre cuidando para que sempre cresçam, desenvolvam, fortifiquem e nunca morram. A você Neide, meus agradecimentos eternos! Além de uma escola chamada Ouro Preto e uma chamada UFOP não podia me esquecer de mencionar uma chamada “Casa do Professor de Ouro Preto – CPOP” onde vi o meu sonho de educadora de uma forma geral, não especificando a arte-educação começar a se concretizar. Na CPOP muito aprendi e criei um laço muito forte que jamais irei desfazer que é o laço entre aquela que a cada dia muda, evolui, influencia nosso cotidiano e o mundo: a tecnologia, com o humano, com a essencial, a necessária, transformadora, indispensável, responsável pelo Eu, enfim, um diamante chamado Educação. Seria injusto com meu coração não citar uma jóia pela qual me encantei e criei uma verdadeira e eterna amizade na CPOP que é a Jussara do Rosário Ferreira. Um anjo de pessoa, amiga e confidente sempre, para todas as horas. A Juju veio para acrescentar, colorir e alegrar o meu cotidiano, saber que a tenho como amiga é sentir-me leve. Ela fortaleceu o meu elo com Ouro Preto me deixando a incumbência de sempre voltar aqui e ter o imenso prazer de visitá-la, de independente do tempo ou distância compartilhar momentos de trocas e poder sempre chamá-la de amiga. Apesar de não ter como foco a área de atuação, interpretação, sempre estive envolvida com espetáculos. Acho que até atuei muito pra quem não tinha isso como prioridade. No primeiro ano de universidade após realizar em 26 de agosto de 2005 uma oficina de “Noções de Improvisação” recebi um convite do Flaviano Souza e Silva, aquele que me ligou dando a notícia do vestibular, para fazer parte de um grupo teatral. A proposta do grupo era trabalhar com temas ligados a história de Ouro Preto. O grupo foi formado e o tema de trabalho proposto pelo diretor Flaviano foi “Antônio Francisco Lisboa: O Aleijadinho”. O grupo recebeu o nome de “A Miraculosa Trupe de Ouro”, nome esse que após um ano mudou para somente “Miraculosa Trupe”. A primeira vez que entrei na Casa da Ópera de Ouro Preto, o teatro mais antigo da América Latina fiquei deslumbrada, encantada, e logo o desejo de um dia apresentar algum espetáculo ali tomou conta de mim. Eu mal sabia que em menos de um ano em Ouro Preto eu iria fazer parte de um grupo teatral e quem dirá que a estréia desse grupo seria na Casa da Ópera, dia 22 de novembro de 2003. Desde então a Miraculosa Trupe iniciou seu trabalho apresentando-se em festivais e em várias cidades mineiras com o apoio da lei Estadual de Incentivo a Cultura sendo atualmente o seu próximo trabalho a gravação de um DVD que retrata toda a história do Mestre Aleijadinho e um pouco da trajetória do grupo. Muito aprendi com o grupo e seus integrantes, além de conhecer a verdadeira história do Aleijadinho. A Rosária Rosário, minha personagem me levou a descobrir coisas incríveis e a me apaixonar a cada dia mais e mais por ela. Infelizmente não sei qual será o destino do grupo, pois o único integrante que mora em Ouro Preto é o Flaviano, já os demais, após concluírem a graduação estão tomando rumos longe daqui. Mas esses quase quatro anos de trabalho, de um universo mágico, lúdico e fantástico, ficarão para sempre guardados e serão lembrados de uma forma única e especial.
Além do espetáculo “O Aleijadinho de Ouro Preto”, realizei outros trabalhos durante minha vida acadêmica: ‘’O Bem Amado” – direção Adair Liberato, “Eco-Lógico: Assim na terra como no céu” e “O show da Água” – direção Osmauro Lúcio”, “Boca de Ouro” (Festival de cenas de Ouro Preto – Mosquete) – direção Antônio Apolinário, dentre outros. Aprimorando com estes a cada dia mais e mais o meu trabalho como atriz. Com o passar de cada dia, meses e anos fui percebendo e tendo a certeza de que morar na barroca cidade patrimônio histórico mundial que é Ouro Preto não é fácil. É incrível como em uma mesmo dia é possível não só vivenciar as quatro estações do ano, como também chegar ao extremo, ao máximo da alegria e tristeza, sem contar que você corre o risco de ser tornar um ser verde devido a tanto mofo, “risos”. Ouro Preto sob um olhar turístico é incrível, encantadora, maravilhosa, cheia de mistérios e histórias. Já sob o olhar estudantil muito de sua beleza arquitetônica infelizmente passam despercebida no cotidiano, suas ladeiras cansam, em alguns momentos da vontade de fugir dessa cidade que às vezes é tão carrasca, mas em compensação a lua nunca foi tão cheia e grande como é aqui. Essa cidade nos prende, nos ensina, nos educa, dependendo de como você a recebe ou se deixa ser acolhido ela lhe torna melhor, ou pior, mas o torna, o transforma sempre, diariamente. Como disse um taxista um dia: “Em Ouro Preto você desce ou sobe em todos os sentidos da vida, cabe a você escolher que rumo seguir”. Em Ouro Preto, assim como a maioria dos estudantes passei por problemas de moradia. Passei por repúblicas, casas de estudantes, mudanças e mais mudanças cheguei a morar um tempo sozinha e depois com a Sara com quem eu moro junto até hoje e que é uma pessoa maravilhosa que tive o prazer em conhecer na terceira fase do vestibular e realizar minha prova de canto no mesmo grupo que ela. Eu e a Sara chegamos a morar juntas em uma república na qual depois de ter batalhado vaga e ter sido escolhida (aceita de verdade na casa), eu saí, que no vocabulário estudantil ouro-pretano seria “eu catei”. Passado um tempo foi a Sara quem saiu da república indo então dividir uma casa comigo. Morar com a Sara, intimamente dizendo Saga, durante todo esse tempo foi ter a certeza de que as diferenças quando são regadas com muito respeito, carinho e amor, nos leva ao equilíbrio, a sintonia perfeita. Somos pessoas de personalidades, pensamentos, horários, idéias e ideais muitos diferentes, mas isso nunca foi nada diante da nossa amizade e cumplicidade, muito menos um empecilho para uma convivência agradabilíssima. Eu e a Saga moramos juntas por quase dois anos, sendo que no segundo semestre de 2006 uma pessoa maravilhosa, Berilo Luigi Deiró Nosella, nos conquistou, ganhando assim o seu lugar em um quarto vazio na nossa casa onde jamais pensávamos em incluir alguém. O Berilo foi um estranho que apareceu em nossas vidas. Ele veio prestar concurso para professor substituto do curso de Artes Cênicas da UFOP e por acaso ficou hospedado em nossa casa. Ele chegou a menos de uma hora antes do jogo do Brasil na copa, eu jamais vou me esquecer da cena onde eu o obriguei a se levantar na hora a execução do Hino Nacional e cantar o hino com seriedade e patriotismo, além dele ser obrigado a me aturar chorando nesse momento. Mal começou o jogo e mais uma cena inesquecível eu vivenciei com ele. Minha vizinha Regina chegou lá em casa com um prato com quiabo, angu e couve. Perguntei ao Berilo se ele queria, ele disse que não, mas ao insistir, percebi que ele estava com muita fome e em meio a gritos e envolvimento com o jogo eu dava de comer a uma pessoa até então totalmente estranha. Ele fez a prova, foi aprovado e ao voltar em Ouro Preto para organizar sua vida na universidade ele nunca mais saiu da nossa casa. O Bê foi um presente de Deus, o irmão (imão) que eu não tinha. É impossível não se encantar por ele. Ele só veio a acrescentar, colorir e alegrar minha trajetória em Ouro Preto, tanto com o seu amor e carinho, como com os seus conhecimentos e profissionalismo.
A vida estudantil e principalmente a republicana em Ouro Preto é única e inigualável em todo o mundo. Viver em república não é muito fácil. Meu primeiro e mais importante objetivo em Ouro Preto sempre foi estudar. Sempre tive liberdade e não me desloquei até aqui para vir ao encontro dela, o que infelizmente acontece com muitos. Toda república assim como muitas coisas em nossas vidas têm seus pontos positivos e os negativos. Não me adaptei em morar numa república tradicional creio eu devido à questão hierárquica, alguns trotes e sociabilidades obrigatórias que não nego ter suas justificativas e fundamentos, mas que não cabem ao meu cotidiano e criação. Apesar de o sistema ser semelhante na maioria das repúblicas, cada uma é uma e tem os seus diferenciais. As por onde passei e tentei ficar, não conseguiram despertar em mim o interesse e harmonia para que eu sentisse segurança em fazer delas meu lar. Em Ouro Preto as coisas costumam ser excessivas, inclusive a sociabilidade. Não me adaptei a morar em república, mas também não resisti em conviver em uma em especial. Ao meu apaixonar por um republicano de república federal, passei desde o início do nosso relacionamento a conviver na casa dele, na Mansão Pulgatório que acabou tornando-se meu segundo lar desde julho de 2004. Ao começar a freqüentar a Pulgatório descobri e senti a diferença entre morar e conviver. Lá só não precisei batalhar vaga, mas conquistei o meu lugar assim como toda a república e ex-alunos conquistaram um lugar especial dentro de mim, através da preocupação, do querer bem, do carinho, das longas conversas seja na sala ou na melhor cozinha de Ouro Preto além do companheirismo, das descontrações, das festas, da torcida pela felicidade do outro. Conviver foi na Pulga foi conhecer e me encantar pela história dos ex-alunos que passaram lá, mas que nunca abandonaram ou esqueceram do que foi morar em Ouro Preto e ser um republicano, foi torcer pelos calouros que tinham realmente a ver com a casa, foi vibrar com cada conquista de cada morador, foi sentir algumas perdas e derrotas, foi não ter férias e ser acolhida lá pelos Pulgas que também não tiveram, foi aprender a cozinhar para muita gente, foi ir aos campeonatos republicanos e torcer, foi ouvir, ser ouvida, foi até trabalhar muito no carnaval de 2005, foi e será muitas outras coisas nas quais eu relataria em páginas e mais páginas. Meu convívio durante esses anos com a Pulgatório e os Pulgas foi de muito apego, envolvimento e encantamento. Cantar o hino da Pulgatório é tão emocionante como cantar o hino nacional em plena copa do mundo sendo necessário conter as lágrimas diante da emoção ainda mais com a casa cheia e principalmente em comemorações referentes à formatura de algum dos moradores. Muitas coisas vivi e aprendi com esse convívio, jamais esquecerei as trocas e importância de todos que fazem parte dessa história nessa minha trajetória ouro-pretana e hoje, só posso dizer que se depender de mim, esse contato e convívio serão eternos. A você Pulgatório e a vocês Pulgas, a minha homenagem e agradecimentos. Universidade, casa, trabalho, amigos e amor. Quem diria, foi aqui em Ouro Preto que me apaixonei pela primeira vez a ponto de ceder dentro de um relacionamento e não ser tão egocêntrica. Namorar em Ouro Preto é igual a morar aqui, é muito difícil e completamente diferente. Aqui você não namora você casa. O mundo estudantil longe de casa facilita as coisas, e destroem também. Apaixonei-me em maio de 2004 e até hoje mantenho esse relacionamento. Vivenciei momentos maravilhosos, mas também nunca sofri tanto. E em meio á flores e turbulências meu amor vem sobrevivendo. Tenho certeza que esse mesmo relacionamento, porém fora de Ouro Preto, seria mais leve e ameno, mas como eu e ele estamos aqui, se queremos ficar juntos temos que encarar e sobreviver a isso. Poderia expor e relatar aqui o que foi meu relacionamento em Ouro Preto, o que foi estar apaixonada aqui durante minha fase acadêmica, mas prefiro que os meus comentários e homenagem à história de amor que aqui vivenciei e vivencio seja compartilhada entre eu e ele. Não que eu seja egoísta, mas os relacionamentos costumam não ser eternos assim como os parentescos e as verdadeiras amizades. Na vida temos nossas escolhas e prioridades, damos importância a algumas coisas e ignoramos outras, às vezes sabemos ouvir, às vezes não, e tudo isso, dentre outras coisas mais, além das surpresas boas ou ruins com as quais estamos sujeitos a nos depararmos a qualquer momento, podem findar algo que um dia desejamos que fosse eterno. Se eu fosse ficar aqui citando nomes e falando de cada um que teve participação de forma maravilhosa e inesquecível nessa minha trajetória eu levaria dias e mais dias. Pessoas fantásticas cruzaram o meu caminho em Ouro Preto e outras, mesmo distante sempre se fizeram presentes. Uma verdadeira amizade vence o tempo, à distância e até mesmo a falta de contato. Ao sair de Juiz de Fora deixei para trás não só família, mas também os verdadeiros amigos que nunca me abandonaram, que sempre estiveram comigo e torcendo pela minha felicidade e ideais. A todos os meus amigos meus sinceros agradecimentos, muito obrigada por fazerem parte da minha vida. Em especial, gostaria de mencionar minha amiga Delaine Nunes da Silva com quem há quase sete anos atrás eu tive a certeza de que uma verdadeira amizade existe. Amiga, obrigada por fazer parte da minha vida. Desde quando nos tornamos amigas, é impossível imaginar a minha vida sem você.
Agora se tratando dos alicerces indispensáveis na minha vida não poderia deixar de falar daqueles que estão distantes somente fisicamente que são os meus pais Ricardo e Sandra. Desde a infância até os dias de hoje, todas as minhas conquistas e vitórias são provenientes da forma em que minha mãe me criou. Talvez uma forma assustadora para a sociedade devido a tanta liberdade, mas a meu ver, a melhor forma. A benção de Deus em ter uma mãe que me mostrasse o verdadeiro mundo, com suas belezas e guerras, que me mostrasse o caminho certo e o errado, o bom e o ruim, o bem e o mal, me dando sempre o direito de escolha, além de toda liberdade, só fizeram com que desde cedo eu tivesse uma personalidade forte e dócil, que eu estivesse preparada para amadurecer não de forma precoce, mas de acordo com as necessidades e desafios impostos pela vida. O que sou hoje é mérito de todo amor, batalha, insistência, educação, apoio, força e criação dada pela minha mãe. Mãe muito obrigada por ter me apresentado o mundo real e feito com que nele eu aprendesse a viver, a cair e levantar e não no mundo utópico proporcionado às vezes pela maioria dos pais. Obrigada por tudo, e principalmente por existir. Espero poder fazer muito por você. Falo agora daquele que consegue ter mais necessidade de falar do que eu, meu pai. Desde a infância até os dias de hoje sempre tivemos uma ligação e cumplicidade muito forte que infelizmente teve que lidar com pouco contato e convivência. Bastante emotivo e sensível, não sei como o meu pai sempre conseguiu ser a minha parte racional e intelectual. Com a minha mãe trocas e desabafos, nele a busca pela saída racional, um outro tipo de amparo. Lamento não ter tido uma relação com ele como tem que ser a dos pais para com os filhos. Mas o nosso amor sempre soube superar qualquer distância e ou dificuldade. Sabemos que sempre podemos contar um com o outro, somos grandes amigos. Queria que me fosse permitido compartilhar mais coisas com ele, mas a vida prefere que seja de outra forma. Aceitamos isso, e acima de tudo nos amamos e se não fosse ele muita coisa também não seria possível. Hoje só tenho a agradecer por tudo e por sua importância, amor e apoio nas minhas mais importantes trajetórias e conquistas mesmo que sempre distante. Ouro Preto de Aleijadinho, Olímpia Cota, Bené da Flauta, Mestre Juca, Viola de Folia, Bandalheira, Ninica, Angu, Socorro, de poetas, de becos e ruelas, de igrejas e casarões, de tragédia e loucura, de amores e desilusões, de bravura e inteligência, de arte e liberdade. De todas as escolas você foi a melhor, a mais carrasca, a mais companheira e principalmente a mais intensa! Muito aqui vivi e aprendi… As ruas por onde andei, as igreja que admirei, as batalhas que enfrentei, as lembranças, experiências e momentos ao longo desses quatro anos sempre me acompanharão onde quer que eu vá. Ah Ouro Preto! Quem um dia teve a oportunidade de aqui viver, nunca mais a esquece…
OURO PRETO…
Do seu calmo esconderijo o ouro vem, dócil e ingênuo; Torna-se pó, folha, barra, prestígio, poder, engenho… (Cecília Meireles)
Com tuas almas penadas Com teus santos… Com teus poetas barroco, alucinados… (Murilo Mendes)
Ouro Preto bole com a gente É um bulir novo, diferente… (Carlos Drumond de Andrade)
Meus amigos Meus inimigos Salvemos Ouro Preto (Manuel Bandeira)
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