Do antigo, postado em 21 de dezembro de 2008.
Após quase três dias ilhadas, ontem consegui retornar para casa…
No caminho barrento e empoeirado fui forçada a desviar de sofás, geladeiras, televisões, colchões pesados de lama, móveis acabados…
De uma ponta da ilha a outra, meu corpo eriçado e de lágrimas contidas diante de tudo o que meus olhos viam e que daria tudo para ser mentira tentava se conter, ter forças para dar forças aqueles que estão precisando…
Na última noite em que o nível da água ainda era alto e estas transpunham as ruas, avenidas, e pontes, era possível ver contraste da programação de final de ano das famílias pontenovenses na semana anterior com a semana atual. Era possível ver em algumas casas que foram abandonadas de última hora muita lama, destroços, barro, água e o pisca pisca dos pisca-pisca que ansiavam por um Natal farto, em família, em casa dos quais não se teve tempo de desligá-los da tomada e muito menos de substituí-los por um letreiro luminoso escrito “Socorro meu Deus, tende piedade de nós”. Aí me pergunto: O que Deus tem haver com isso? Nada! Já nós seres humanos inconseqüentes, temos muita culpa. O sol hoje é quente demais, as chuvas excessivas, o consumo desnecessário elevadíssimo, as geleiras choram, as árvores são derrubadas. E a culpa é de quem? O reflorescimento e a reciclagem são atitudes lindas, mas quem as pratica?
Após uma semana da belíssima apresentação do espetáculo “Lata d’água na cabeça” que retratou a época em que não havia água nos morros de Ponte Nova e que a população tinha que ir às cisternas para buscarem água nas latas que voltavam cheias equilibradas na cabeça pela ladeira acima, hoje, sete dias após o espetáculo, a população que foi espectadora, vira elenco. Não só bastasse a enchente, os estragos, inúmeras pessoas desabrigadas, têm também a falta de água, pane no abastecimento de água da cidade com previsão de volta para não antes da próxima quarta-feira. Situação triste e que gera muitas reflexões. Sabemos que a água do planeta está cada vez mais escassa, mas mesmo assim continuamos a desperdiçá-la… não temos a idéia do que seja ficar sem água. Eu tenho sentido uma pontinha do que é isso. Sabe o que é você guardar seu prato sujo do almoço para aproveitar no jantar de forma a não desperdiçar o pouco da água que resta na caixa d’água e que pode a qualquer momento ser útil para alguma situação emergencial? Sabe o que é você não poder suar-se, e não ter a certeza de quando poderá tomar um banho descente e não de canequinha, estocando lenços umedecidos? E sabe lá tantas outras coisas mais… Se você não sabe, ai vai um conselho, jamais queira saber e cuide, preserve os bens naturais que ainda temos… Água aqui está difícil de achar até para comprar e quando encontra você corre o risco de pagar muito mais do que ela vale… Pelo menos a cidade em sua maioria tem demonstrado seu espírito solidário e de união, mas mesmo assim ainda tem aqueles que só olham para si e são oportunistas… vendem água a preço de champagne, insistem em lavar seus carros porque foram dar uma voltinha nele para “analisarem” os estragos e as rodas e laterais acabaram sujando. Brincadeira né?
E assim New Bridge caminha para os últimos dias do ano… Numa tristeza só… precisando ser reconstruída em vários sentidos… e olha que aqui estamos vivenciando apenas uma ponta do que outras cidades e regiões, como Santa Catarina, por exemplo, vivenciaram.
Minha mãe viria passar o Natal comigo, mas pedi a ela que não viesse… e não infelizmente não tenho condições de ir… se pudesse pouparia todos de ter que enfrentar tudo isso e visualizar cenas de arrancar lágrimas até da pessoa mais insensível. Será o primeiro Natal que passarei longe de casa e apesar de não gostar nem um pouco dessa data comercial de comes, bebes, presentinhos e lembranças triste, soa estranho saber que irei passar Natal em uma cidade onde não haverá Natal…
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